domingo, maio 01, 2005

Cartazes de mulheres. Janice Winship

Os Media, como construtores de identidades deturpam a realidade apresentando-nos estereótipos diversos que constituem a Shan-Gri-Lá do consumidor ou, pelo contrário a sua Némesis. Assistimos à edificação de conceitos e ideias que mitifica ou adultera a realidade sem no entanto reflecti-la.
A mulher ao longo da história passou por várias fases de emancipação, a mulher-objecto tornou-se a mulher cidadã, activa, moderna, liberta, igual… em teoria. Ao entrar no mundo do trabalho libertou-se dalgumas correntes e passou a ser representada pela publicidade como uma mulher participativa, não deixando a sua imagem de ser banalizada e sinónimo de consumo. Através do corpo feminino muitas publicitários vendem os seus produtos, utilizam da mesma forma o corpo do homem mas, o feminino vende mais, porque o poder de compra ainda é mais elevado nos homens. A maior parte da estratégia publicitária visa aglomerar a ideia de mulher bonita à compra do produto, funcionando como um chamariz para os homens (comprando elas juntam-se a mim) e para as mulheres (usando aquilo sou bonita). Simplista? Talvez. Eficiente? Muito.
O uso da mulher nos Media tornou-se mais requintado com o passar dos tempos, não sendo unicamente a presença de uma mulher “descascada” que fará subir as audiências como nos tempos do BIG SHOW SIC ou mesmo o clássico anúncio da MAX MEN que catapultou a Marisa Cruz para o estrelato.
Dos anúncios analisados pela Janice Winship os relativos ao Nissan Micra demarcam do lote por não representarem o carro (habitualmente visto como uma coisa de homem), ou a mulher que o conduz de forma directa, mas sim denotando o seu carácter: o de uma mulher que sabe o que quer e protege defende o que é seu (papel assumido pelo homem desde o tempo que se aventurava à frente da sua tribo de forma a defendê-la de qualquer risco). As consequências do não respeito pelo território/carro da mulher leva a uma vingança/justiça implacável que procura atingir a masculinidade do presumível ladrão. A mulher já não espera pelo seu cavaleiro de armadura reluzente mas pega sim nas armas como descrito no anúncio, fazendo referência ao John Bobbitt que viu o seu pénis cortado após uma disputa com a sua companheira.

“No entanto as mulheres estão essencialmente ausentes, evitando qualquer jogo sexual do seu corpo, enquanto que o homem (corpo) é largamente representado de formas invulgares: na manchete de um tablóide do caso americano Bobbitt em que uma esposa castrou o seu parceiro”[1]

De certa forma os Media usam e abusam das imagens procurando meramente adequar-se ao seu tempo, de forma a não perderem a quota do mercado. A imagem é sempre deturpada de forma a atingir o objectivo de quem divulgue, sem no entanto se preocupar com o estereótipo criado a volta dos visados. O caso das mulheres é como o dos homens: existem vários segmentos de mercado em que se encaixam, sendo somente conceitos a seguir ou evitar. São as vítimas da moda.

[1]Janice Winship, Cartazes de Mulheres. Publicidade, controvérsia e disputa do feminismo nos anos noventa in Media e Jornalismo nº5 2004, p 43